A vida é tudo menos linear, é uma “escada sem corrimão”, nas sábias palavras do poeta e professor, David Mourão Ferreira. Todos nós, de uma forma ou de outra, já experienciámos adversidades com as quais não estávamos propriamente a contar, um exemplo disso, a situação que todos vivemos. Alguns dos acontecimentos da nossa vida podem ser mais traumáticos, tendo um impacto mais duradouro na nossa vida, a perda de um familiar, amigo, separação do cônjuge, um acidente ou uma doença grave que pode virar a nossa vida de “pernas para o ar”. Cada mudança, cada ocorrência, cada momento mais marcante, afeta-nos a todos de maneira diferente, promovendo a formação de pensamentos mais negativos, invasivos e desconfortáveis, que geram emoções fortes, dúvidas e incertezas. Contudo, geralmente, todos nós nos mostramos capazes de nos adaptarmos razoavelmente bem, cada um ao seu próprio tempo, a mudanças e situações de vida mais estressantes e por vezes, algumas delas, dramáticas. A capacidade de resiliência de cada um desempenha um papel importante no processo adaptativo a este tipo de situações e não só.

A Psicologia define o conceito de resiliência como a capacidade que cada um de nós possui para lidar com situações de maior adversidade, traumas, tragédias e ameaças; problemas familiares, relacionamentos difíceis e instáveis, problemas de saúde, econômicos ou profissionais. A capacidade de resiliência implica o desenvolvimento de uma capacidade introspetiva, que permita abrandar a tendência para a ação, o agir reativo à situação, promovendo a capacidade de refletir sobre a situação que estamos a viver, contribuindo para o desenvolvimento e crescimento pessoal de cada um e para uma tomada de consciência mais elevada. Desenvolver uma maior capacidade de resiliência, promove não só a capacidade para fazer face a situações imprevistas na nossa vida, circunstâncias mais difíceis que possamos estar a vivenciar, mas também lhe permite crescer e melhorar a sua vida no decurso da mesma.

Contudo, ser resiliente, não significa que não se experiencia dificuldades ou angústias mais fortes. Pessoas que tenham vivenciado situações de grande adversidade ou traumas, geralmente experienciam dor emocional e stress, de modo mais frequente. O caminho da resiliência implica um considerável esforço, personificado no sofrimento emocional sentido e envolve a transformação de comportamentos, pensamentos e ações que poderão estar ao alcance de qualquer um de nós, levando, contudo, o seu tempo. O tempo de cada um. O foco deverá estar em quatro componentes principais – ligações afetivas, bem-estar, pensamento e significados saudáveis, aspetos que contribuem para aumentar a sua capacidade de resiliência.

Ao nível das ligações afetivas, deve procurar relacionar-se com pessoas mais compreensivas, confiáveis, que validem o que sente e o que pensa. A dor emocional que resulta de eventos traumáticos, pode levar a um maior isolamento, contudo, será fundamental estar disponível para ser ajudado pelos mais próximos. Em simultâneo com os relacionamentos individuais, deve procurar inserir-se num grupo de pares, ou instituição, grupos cívicos ativos, que facilitem e promovam o sentimento de integração e de esperança. Promover o bem-estar consigo mesmo de forma a aumentar o seu amor-próprio e a sua autoestima. Os fatores estressantes são tanto físicos, como emocionais, o que torna o cuidado pessoal extremamente importante para promover a sua saúde mental, bem como, a sua capacidade de resiliência. Promover fatores positivos no seu estilo de vida, tais como, a nutrição adequada, dormir as horas de sono que considera necessárias, muita hidratação e exercício físico regular, são tudo aspetos que irão fortalecer o seu corpo e a sua mente, contribuindo de forma significativa na redução da ansiedade e do surgimento e instalação, de forma mais presente, de aspetos mais depressivos que podem levar à depressão. Procure afastar-se de soluções mais negativas, destrutivas, tais como, o consumo de álcool, drogas ou outras substâncias uma vez que apenas irão servir de máscara, funcionam como um pequeno penso para uma ferida, bem profunda, que envolve toda a sua estrutura de personalidade.

Encontre um propósito, ajude outras pessoas, torne-se mais proativo em reconhecer e aceitar as suas emoções nos períodos mais difíceis. Se o problema é significativo e aflitivo, como por exemplo perder o seu emprego, procure refletir e olhar para ele de forma a poder concentrar-se nos aspetos que pode “controlar” de forma a tomar decisões. Pode optar por utilizar uma hora do seu dia-a-dia para aumentar os seus recursos, pontos fortes ou trabalhar para fortalecer o seu currículo para futuras candidaturas a novos empregos. Tomar a iniciativa, decidir, vai ajudá-lo a lidar com estes períodos mais negativos, estressantes, promovendo o aumento das suas hipóteses de sucesso futuro. Procure desenvolver e criar objetivos novos, mas sensatos, alcançáveis, realistas. O autoconhecimento faz parte do processo de crescimento, promovendo o aumento da sua autoestima e confiança para fazer face aos desafios futuros.

Os pensamentos que tem são de extrema importância porque são eles que o guiam no seu dia-a-dia. Procure manter as coisas em perspetiva, procurando identificar pensamentos que funcionam como “sabotadores internos”, normalmente, muito exigentes e punitivos. Aceite a mudança e, acima de tudo, procure aceitar o que realmente não pode mudar. Procure olhar para o seu passado e utilize-o como uma referência, procurando aprender com os acontecimentos passados, com as emoções vividas nessas experiências, pensando na vida como um conjunto de lições, nas quais algumas se repetem até serem aprendidas (já todos nos demos conta disso).

Para muitas pessoas usar alguns dos aspetos e estratégias apresentadas poderão ser úteis para aumentar a sua capacidade de resiliência e ajudá-los de forma mais efetiva a lidar com momentos e situações mais intensas; para outros o processo poderá ser bem diferente e mais difícil. Se for esse o seu caso, procure a ajuda de um psicólogo clínico ou psicoterapeuta que o pode ajudar a olhar para si de forma mais compreensiva, mais tolerante, de modo a criar o espaço interior necessário ao seu crescimento pessoal, promovendo o aumento da sua capacidade de resiliência, a sua autoestima, confiança e amor-próprio.

Tradução/Adaptação – André Gentil Ruas

Fonte: APA – “Building your Resilience”