Recriação de possível situação experienciada num episódio de ataque de pânico:
“Imagine que de repente a sua visão fica turva, sente-se confuso, com dificuldades em respirar, sente que pode perder o controlo a qualquer momento, a ansiedade aumente por se sentir frustrado e impotente para lidar com o que sente. Parece uma coisa sem fim, as pernas tremem, o coração bate de forma acelerada.”
Depois de uma primeira vez em que estas sensações são vividas, o receio de voltar a sentir o mesmo, acaba por se instalar. Só de imaginar a situação, podemos começar a sentir palpitações, a ansiedade e o batimento cardíaco tornam-se muito intensos. A sensação de perda de controlo é intensa e assustadora, aliada a uma forte sensação de desamparo.
Nas crises de pânico o corpo reage como se estivesse perante uma ameaça com a qual não irá conseguir lidar. Sintomas, tais como, taquicardia, respiração rápida e ofegante, tremores, sensação de perda de controlo, pensamentos de que algo de muito grave vai acontecer, impotência e incompreensão perante o vivido e experienciado. Como não existe uma ameaça real, a nossa mente vira-se para as sensações e reações corporais, potenciando a emergência de pensamentos menos adequados e menos suportáveis, mais invasivos, levando-nos a prever o pior.
O que é o Síndrome de pânico?
É um transtorno psicológico caraterizado pela ocorrência de inesperados ataques de pânico. Após uma primeira crise, a procura de antecipar novos episódios de pânico despoleta uma enorme ansiedade e a necessidade de estar sempre atento e alerta (ansiedade antecipatória). Com o passar do tempo, esta situação pode tornar-se extremamente absorvente e desgastante para quem o vive e experiência.
Os ataques de pânico caraterizam-se por períodos nos quais a pessoa experiência um pico de ansiedade muito intenso, com uma intensidade superior aquela que a pessoa consegue suportar, de início súbito na maioria dos casos, aliado a uma forte sensação de catástrofe iminente. A frequência dos ataques de pânico, varia de pessoa para pessoa, a duração é variável, mas geralmente são alguns minutos.
Os ataques de pânico apresentam, pelo menos quatro, dos seguintes sintomas mais comuns:
– Palpitações ou Taquicardia
– Sudorese
– Tremores
– Sensação de falta ar
– Sensação de asfixia
– Dor ou desconforto torácico intenso
– Náusea ou desconforto abdominal
– Sensação de desmaio, tontura, instabilidade
– Calafrios ou ondas de calor
– Dormências ou formigueiro
– Desrealização ou despersonalização
– Medo de perder o controlo sobre si mesmo
– Medo de morrer em consequência do que sente e experiência
Nas fobias a pessoa teme uma situação externa a si mesma, nos ataques de pânico, o perigo vem de dentro. Há uma sensação de perda de controlo de si mesmo, perante a situação que experiencia, aliada a uma interpretação catastrófica das reações corporais, extremamente invasivas. A sensação de desamparo intensifica-se.
Com a repetição das crises de pânico é possível que se desenvolva, em simultâneo, sintomas que remetem para uma ansiedade antecipatória, resultado da expetativa de poder voltar a experienciar novos ataques de pânico em situações nas quais sinta que não consegue gerir a tensão interna que possa sentir. É normal que a pessoa comece a limitar os seus percursos, as suas escolhas e a sua vida em função da necessidade de evitar o surgimento dos mesmos sintomas. Começa por evitar determinados lugares, deixa de fazer determinadas coisas, limitando a sua vida pessoal e familiar.
Muitas pessoas com tendência para experienciar ataques de pânico, apresentam sintomas de agorafobia. A agorafobia é um estado de ansiedade que está relacionado com a ideia de estar em determinados locais ou situações nos quais a fuga ou a necessidade de pedir ajuda e suporte, é sentida como muito difícil de se concretizar, inútil ou mesmo impossível, caso, por qualquer motivo, os sintomas de um possível ataque de pânico, sejam despoletados. É comum ocorrer em ambientes cheios de pessoas, lugares novos e pouco familiares ou quando a pessoa está mais distante de casa ou da zona que lhe é mais familiar. Os sintomas podem ser despoletados quando está sozinho, está parado e “sente-se” preso no meio do trânsito, no metro, no trabalho, no centro comercial.
As pessoas que desenvolvem estes sintomas de agorafobia, geralmente sentem-se mais seguras na presença de alguém da sua confiança e tem um “braço direito”. Este apoio funciona como um regulador externo da ansiedade sentida pelo próprio, uma espécie de bússola pela qual se orientam, ajudando-os a sentirem-se mais seguros e menos vulneráveis a eventuais situações externas que possam reativar os sinais de alerta.
Curto-circuito emoção-pensamento-corpo
Podemos identificar a emoção de medo como reação fisiológica refletida nas alterações no batimento cardíaco, na pressão sanguínea, hiperventilação, suores ou como reação emocional; ansiedade, apreensão, preocupação excessiva, pensamentos ruminativos, invasivos e negativos, forte sensação de desamparo.
O estado emocional mais tenso, agitado e ansioso característicos destas situações, é acompanhado de reações fisiológicas como o aumento do batimento cardíaco, sensação de perda de controlo, desmaio, percecionando e interpretando estas reações como perigosas – possível doença, catástrofe iminente, morte. Estas interpretações e perceções, despoletam uma maior ansiedade, o que por sua vez dá origem a reações fisiológicas mais intensas, potenciando o surgimento de pensamentos mais negativos, invasivos e ruminativos que geram angústia, desespero e uma forte sensação de desamparo. Cria-se um ciclo vicioso, infindável, um padrão repetitivo que gera uma forte necessidade de a pessoa se isolar, perante a sensação de não conseguir lidar com as emoções e sensações vividas nos mais variados contextos; sociais, profissionais e familiares. É fundamental que a pessoa possa tomar consciência deste processo para, gradualmente, à medida que vai pensando e refletindo sobre estes aspetos, vai interrompendo este padrão repetitivo.
Prisioneiro do futuro
A ansiedade é uma reação emocional de antecipação de perigo ou situação perigos com a qual sinto que poderei não ter ferramentas nem recursos internos para lidar da forma mais adequado, temendo perder o controlo e como resultado, algo de grave possa acontecer, perante uma sensação forte de impotência e desamparo. A ameaça pode ser difusa, pouca clara e mal identificada. A mente agitada, ansiosa, projeta cenários, situações sentidas como potencialmente ameaçadoras e extremamente angustiantes. Este estado de permanente alerta tem impacto no processo de atenção, foco e pensamento. A atenção passa a estar dispersa, procurando alguma coisa que possa despertar uma maior necessidade de atenção e maior cuidado. O fluxo de pensamentos é intenso, preocupações, pensamentos negativos e ruminativos. A pessoa ansiosa vive boa parte do seu tempo na expetativa de antecipar algo que a possa deixar agitada, receosa de perder o controlo, interferindo de forma severa no seu funcionamento.
Autorregulação
Observa-se muito frequentemente, em pessoas nas quais o quadro de pânico esteja instalado, que a função de autorregulação não está bem desenvolvida. No início da vida, a regulação interna do recém nascido é feita pelo vinculo estabelecido ao objeto primário, na maioria dos casos, à mãe. É com base nesta experiência primária que a criança irá desenvolver a sua capacidade de autorregulação interna. Inicialmente, a mãe ajuda a criança a regular o seu corpo, até que esteja um pouco mais madura para que se possa autorregular. A mãe acalma o bebé assustado no seu colo, fala com ele num tom calmo, sereno e tranquilizador, ajudando-o deste modo a diminuir a ansiedade e a agitação que sente, contendo as suas angústias e preocupações. É comum encontrarmos, nas pessoas que desenvolvem um quadro de pânico, experiências de vinculação mais difíceis, confusas e problemáticas, que interferem de forma significativa no desenvolvimento e maturação da capacidade de autorregulação, promovendo o surgimento de uma reduzida tolerância à excitação interna. A pessoa que rapidamente se sente exposta e vulnerável, desamparada, perante as reações que emergem no seu corpo, sente-se desorientada, confusa, perdida, para encontrar uma resposta que lhe permita encontrar uma resposta mais adequada para lidar com a situação. É comum solicitar a presença de alguém de confiança para se sentir mais segura. Assim, procura compensar a falta de segurança interna, através do auxílio de um vínculo externo.
Traduzido/adaptado: André Gentil Ruas
Fontes: Long-Term Psychodynamic Psychotherapy: A Basic Text 3rd Edition; DSM V – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
